Por Marli
Olmos.
Se tivesse a sorte de, numa viagem de
avião, casualmente sentar-se ao lado de um alto executivo da Volkswagen, o
gaúcho Ademir Cardona Paim diz que não deixaria passar a chance de dizer que a
empresa está completamente equivocada ao decidir por encerrar a produção da
Kombi no fim deste ano. Baseado nos seus 20 anos de experiência em serviços de
reforma, locação e venda de peças desse veículo, Ademir se sente na obrigação
de alertar o fabricante sobre o erro. No entanto, mesmo que o acaso lhe
permitisse encontrar o próprio presidente da companhia, dificilmente seus
argumentos ajudariam a reverter a decisão.
Para Ademir, proprietário da Cia das Kombis, empresa de Porto Alegre, é errado imaginar que o modelo está ultrapassado por não atender à lei que exigirá airbags e freios ABS a partir de 2014. "Esse é o veículo que o país precisa", diz. E não adianta tentar convencê-lo a experimentar modelos de outras marcas ou contar com a possibilidade de a própria Volks lançar um substituto do veículo produzido no país desde 1957. Por enquanto, todos perdem feio na relação custo-benefício. É possível comprar uma Kombi nova por R$ 46 mil a R$ 48 mil. Vans com capacidade semelhante são bem mais confortáveis, mas custam o dobro. Principal argumento de vendas entre as décadas de 60 e 70, o uso do veículo do trabalho para o passeio com a família no fim de semana foi também o principal apelo das campanhas publicitárias da Kombi na época em que o veículo mais antigo em produção no país precisava de propaganda.
Guiar a Kombi é como viajar no passado para a aposentada Vanda Baptista. Quando ela era criança, o pai usava o mesmo tipo de veículo para trabalhar e passear. Durante a semana transportava os tacos da empresa de parquetes, na qual trabalhava. Nos fins de semana, era só estender a lona sobre o veículo, dar alguns nós com corda e pronto: estava formado o acampamento. Durante o dia, a família se esbaldava nos churrascos. À noite, a Kombi servia de dormitório para todos.
Até hoje é a bordo de uma Kombi que Vanda e o marido se deslocam nas serras gaúchas para as cavalgadas em fins de semana. Adaptado, o veículo tem até uma geladeira e bancos que se transformam em camas. Há pouco tempo, Vanda decidiu comprar uma Kombi igual à que o pai usava quando ela era criança. Encontrou uma modelo 1966 até com pintura igual, em duas cores: vermelho e branco, no estilo chamado "saia e blusa". Decidiu, então, contratar o serviço da Cia das Kombis, de Ademir Paim, para uma reforma geral. O clássico da década de 60, nas mesmas duas cores, também serviu de inspiração para a Volkswagen lançar uma série especial, com visual retrô, na comemoração dos 50 anos do veículo, em 2007.
As vidas de boa parte dos "kombeiros" estão repletas de lembranças do passado. É por motivos sentimentais que muita gente ainda está ligada ao veículo. Uma antiga oficina mecânica na Rua do Glicério, no centro de São Paulo, tinha uma Kombi velha para prestar socorro. Quando algum cliente telefonava para contar que o carro havia enguiçado, seguiam diretamente para o local, a bordo da Kombi, mecânico, ferramentas e o filho do dono da oficina, Heródoto Barbeiro, hoje apresentador da TV Record.
Heródoto ajudou o pai na oficina durante a infância e adolescência e decidiu comprar uma Kombi velha quando aprendeu a dirigir. Já teve umas sete ou oito, todas velhinhas. Não é, porém, só por saudosismo que o apresentador continua ao volante desse furgão. Desde que comprou um terreno em reserva ambiental na Serra do Mar, ele percebeu que mais do que nunca precisava de um veículo robusto. A Kombi passou a fazer parte da vida de Heródoto que se acostumou a dar caronas no trajeto até Taiaçupeba, distrito de Mogi das Cruzes, nos fins de semana.
A Kombi que Heródoto dirige é a mais nova que ele já teve. É um modelo 2008, ou seja, produzido depois que a Volkswagen mudou o motor refrigerado a ar para um flex refrigerado a água. Como o apresentador usa o veículo preferencialmente para lazer, é raro vê-lo com ele no trabalho. Foi por isso que o segurança da Record estranhou, certo dia, ao ver uma Kombi parada à frente do portão de acesso ao estacionamento reservado a apresentadores. Achou melhor não abrir o portão. E, depois de insistentes buzinadas resolveu orientar o motorista:
- Entrega é pelos fundos.
A surpresa foi ver quem estava ao volante quando o motorista abriu o vidro para identificar-se. Depois de estacionar ao lado de carros elegantes, em tom de gozação, Heródoto disse ao segurança:
Heródoto é do tipo que prefere tirar o banco do meio para facilitar o transporte de coisas. "Até sofá já carreguei". O modelo standard, que vem com bancos que acomodam oito passageiros mais motorista, é o mais vendido entre volumes mensais que giram em torno do total de 1,9 mil unidades por mês - ou 33% do segmento de furgões em 2012. A versão concebida para carregar pessoas é muitas vezes a preferida também por quem usa o veículo só para carga. Marcos Leite, gerente de vendas da Amazon, concessionária Volkswagen de São Paulo, diz que muita gente compra a versão com bancos justamente para não dar na vista que transporta mercadoria.
Mas há quem prefere a versão furgão, aquela toda coberta, sem bancos, feita para o transporte de uma tonelada de carga. Esse é o estilo de transporte usado por pequenos comerciantes, como o paulista Ernesto Zanette. Desde que "se conhece por gente" Ernesto tem Kombi. Com ela vai até Mogi Mirim buscar o eucalipto que serve para aquecer suas duas saunas - uma em Guarulhos e outra na Penha. Assim como a Kombi, também a sauna familiar, como Ernesto faz questão de esclarecer, é um produto em extinção. Mas enquanto existirem "sauneiros" assíduos sempre haverá um "kombeiro" de prontidão para levar-lhes toalhas limpas. Para Ernesto, o veículo usado em sua empresa "é para ser dirigido com calma". Essa característica dispensaria, portanto, na opinião dos fanáticos pelo modelo, a preocupação com equipamentos de segurança mais sofisticados como airbag e ABS.
Independentemente dos motivos, quem desfruta do estilo Kombi ainda não sabe o que vai fazer quando o veículo sair de linha. Uma legião de órfãos desse ícone se revela desamparada. Ademir, da Cia das Kombis, diz que estava preparado para investir na ampliação do negócio.
Para Ademir, proprietário da Cia das Kombis, empresa de Porto Alegre, é errado imaginar que o modelo está ultrapassado por não atender à lei que exigirá airbags e freios ABS a partir de 2014. "Esse é o veículo que o país precisa", diz. E não adianta tentar convencê-lo a experimentar modelos de outras marcas ou contar com a possibilidade de a própria Volks lançar um substituto do veículo produzido no país desde 1957. Por enquanto, todos perdem feio na relação custo-benefício. É possível comprar uma Kombi nova por R$ 46 mil a R$ 48 mil. Vans com capacidade semelhante são bem mais confortáveis, mas custam o dobro. Principal argumento de vendas entre as décadas de 60 e 70, o uso do veículo do trabalho para o passeio com a família no fim de semana foi também o principal apelo das campanhas publicitárias da Kombi na época em que o veículo mais antigo em produção no país precisava de propaganda.
Guiar a Kombi é como viajar no passado para a aposentada Vanda Baptista. Quando ela era criança, o pai usava o mesmo tipo de veículo para trabalhar e passear. Durante a semana transportava os tacos da empresa de parquetes, na qual trabalhava. Nos fins de semana, era só estender a lona sobre o veículo, dar alguns nós com corda e pronto: estava formado o acampamento. Durante o dia, a família se esbaldava nos churrascos. À noite, a Kombi servia de dormitório para todos.
Até hoje é a bordo de uma Kombi que Vanda e o marido se deslocam nas serras gaúchas para as cavalgadas em fins de semana. Adaptado, o veículo tem até uma geladeira e bancos que se transformam em camas. Há pouco tempo, Vanda decidiu comprar uma Kombi igual à que o pai usava quando ela era criança. Encontrou uma modelo 1966 até com pintura igual, em duas cores: vermelho e branco, no estilo chamado "saia e blusa". Decidiu, então, contratar o serviço da Cia das Kombis, de Ademir Paim, para uma reforma geral. O clássico da década de 60, nas mesmas duas cores, também serviu de inspiração para a Volkswagen lançar uma série especial, com visual retrô, na comemoração dos 50 anos do veículo, em 2007.
As vidas de boa parte dos "kombeiros" estão repletas de lembranças do passado. É por motivos sentimentais que muita gente ainda está ligada ao veículo. Uma antiga oficina mecânica na Rua do Glicério, no centro de São Paulo, tinha uma Kombi velha para prestar socorro. Quando algum cliente telefonava para contar que o carro havia enguiçado, seguiam diretamente para o local, a bordo da Kombi, mecânico, ferramentas e o filho do dono da oficina, Heródoto Barbeiro, hoje apresentador da TV Record.
Heródoto ajudou o pai na oficina durante a infância e adolescência e decidiu comprar uma Kombi velha quando aprendeu a dirigir. Já teve umas sete ou oito, todas velhinhas. Não é, porém, só por saudosismo que o apresentador continua ao volante desse furgão. Desde que comprou um terreno em reserva ambiental na Serra do Mar, ele percebeu que mais do que nunca precisava de um veículo robusto. A Kombi passou a fazer parte da vida de Heródoto que se acostumou a dar caronas no trajeto até Taiaçupeba, distrito de Mogi das Cruzes, nos fins de semana.
A Kombi que Heródoto dirige é a mais nova que ele já teve. É um modelo 2008, ou seja, produzido depois que a Volkswagen mudou o motor refrigerado a ar para um flex refrigerado a água. Como o apresentador usa o veículo preferencialmente para lazer, é raro vê-lo com ele no trabalho. Foi por isso que o segurança da Record estranhou, certo dia, ao ver uma Kombi parada à frente do portão de acesso ao estacionamento reservado a apresentadores. Achou melhor não abrir o portão. E, depois de insistentes buzinadas resolveu orientar o motorista:
- Entrega é pelos fundos.
A surpresa foi ver quem estava ao volante quando o motorista abriu o vidro para identificar-se. Depois de estacionar ao lado de carros elegantes, em tom de gozação, Heródoto disse ao segurança:
- E tome
cuidado para ninguém encostar no meu carro!
Esse não foi o
único episódio constrangedor. O apresentador foi uma das tantas vítimas dos
famosos incêndios em Kombis no passado. Aconteceu bem no cruzamento da Avenida
Paulista com a Rua Augusta. Não faltou gente para acudir com extintor. Também
não é fácil ter um carro assim quando se é famoso. "Você tem uma
Kombi?", perguntou, indignado, o motorista de uma elegante Pajero que
estacionou ao seu lado na balsa para o Guarujá. O sujeito achou a cena tão
pitoresca que até pediu para tirar uma foto de Heródoto ao lado do veículo.
Heródoto é do tipo que prefere tirar o banco do meio para facilitar o transporte de coisas. "Até sofá já carreguei". O modelo standard, que vem com bancos que acomodam oito passageiros mais motorista, é o mais vendido entre volumes mensais que giram em torno do total de 1,9 mil unidades por mês - ou 33% do segmento de furgões em 2012. A versão concebida para carregar pessoas é muitas vezes a preferida também por quem usa o veículo só para carga. Marcos Leite, gerente de vendas da Amazon, concessionária Volkswagen de São Paulo, diz que muita gente compra a versão com bancos justamente para não dar na vista que transporta mercadoria.
Mas há quem prefere a versão furgão, aquela toda coberta, sem bancos, feita para o transporte de uma tonelada de carga. Esse é o estilo de transporte usado por pequenos comerciantes, como o paulista Ernesto Zanette. Desde que "se conhece por gente" Ernesto tem Kombi. Com ela vai até Mogi Mirim buscar o eucalipto que serve para aquecer suas duas saunas - uma em Guarulhos e outra na Penha. Assim como a Kombi, também a sauna familiar, como Ernesto faz questão de esclarecer, é um produto em extinção. Mas enquanto existirem "sauneiros" assíduos sempre haverá um "kombeiro" de prontidão para levar-lhes toalhas limpas. Para Ernesto, o veículo usado em sua empresa "é para ser dirigido com calma". Essa característica dispensaria, portanto, na opinião dos fanáticos pelo modelo, a preocupação com equipamentos de segurança mais sofisticados como airbag e ABS.
Independentemente dos motivos, quem desfruta do estilo Kombi ainda não sabe o que vai fazer quando o veículo sair de linha. Uma legião de órfãos desse ícone se revela desamparada. Ademir, da Cia das Kombis, diz que estava preparado para investir na ampliação do negócio.
Espera, agora, para ver se
Volks trará alguma novidade. Heródoto Barbeiro já pensa em comprar uma mais
nova para se garantir por mais tempo. Já Vanda tem planos para ficar muito
tempo com a sua 66: "Eu aprendi a dirigir na Kombi; hoje ela é a minha
história; é como viajar no tempo".
não acredito que realmente vão tirar de linha, existe uma lacuna no mercado.. se realmente acaber, será uma pena não só para os amantes do carro mas para quem precisa dela para o trabalho, já que não existe nada do mesmo porte e confiabilidade por um custo tão baixo..
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